2 de julho de 2014

Entre uma multidão que carrega a sua mala preta
Eu levo a minha mala branca
Os olhares cegos são intensos
Mas o orgulho supera a debilidade

Sou uma entre vinte e uma centenas
E não pertenço a tal holonomia
Sou uma entre vinte e uma centenas
Mas a solidão não me domina
Porque solidão não é estar só
Mas sim sentir-se só entre muitos

Esta gente rege-se por uma mente vazia
Este povo não se apercebe da sua monotonia
Produz-se, desenvolve-se
Mas nada se cria.

Será este negro a decadência da criação?
Será esta moda o estagnar da inovação?

Levo a minha mala branca
E levo-a até à meta
Criei, desenvolvi e produzi.
Criei.

Sou uma entre vinte e uma centenas
E nenhuma mão acusadora me derruba
Sou eu
E uma mala preta não me amedronta

30 de junho de 2014

27 de junho de 2014

Beatitude

Inspirou profundamente o ar cinzento
do fumo que gradualmente lhe aniquilava
os pulmões.
Olhou em frente e viu a cidade outrora esquecida.
A cidade da sua infância erguia-se à sua volta,
como em tempos o fizera,
porém, desta vez sentiu-a bem-vinda,
não a criticou, não a caluniou.
Sentou-se num banco
rodeado de árvores e beatas.
Inalou novamente o fumo
que lhe tranquilizava as iras.
O aglomerado de moléculas tóxicas
soltou-se da sua boca e desvaneceu-se no ar.